Verdade, mentira, certeza, incerteza…

Verdade, mentira, certeza, incerteza…

 
“Verdade, mentira, certeza, incerteza…

Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.

Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas

Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.

Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?

O cego pára na estrada,

Desliguei as mãos de cima do joelho.

Verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?

Qualquer coisa mudou numa parte da realidade — os meus joelhos e as minhas mãos.

Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?

O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.

Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.

Ser real é isto.”

 

Alberto Caeiro
12-4-1919
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

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